sábado, 6 de agosto de 2016

Invisível

Cresci vendo Maria por ali, tão próxima de todos, de mim e das minhas irmãs , durante muito tempo pensei que fosse mesmo " da família " como sempre ouvi dizer. Com o tempo percebi que ela não era " da família ", as pessoas da família faziam suas refeições na sala, todos juntos, e Maria comia na cozinha.
Achei então que Maria devia ser parte daquela casa como a geladeira e o fogão dos quais ninguém conseguia viver sem embora só fossem lembrados por nós quando algo dava errado , afinal, Maria vivia ali entre o fogão e a pia, constantemente com a vassoura na mão .
E Maria era parte da casa  mesmo, a parte que mais funcionava . A gente viajava, voltava , e tudo ficava ali, os cachorros , as plantas , a casa com Maria.
As roupas  passavam do varal para as gavetas como num passe de mágica, as compras do supermercado rapidamente se instalavam na dispensa e a comida nossa de cada dia surgia sempre pronta ao meio dia ...
Maria me ajudou a cuidar da minha mãe  quando a doença se abateu sobre nós e a enterrar meu pai  anos depois quando poucas pessoas ali imaginavam o que eu estava sentindo .
Envelhecemos eu e ela , e agora sem a casa dos meus pais Maria foi pra minha, onde continuou como parte do cenário . Cada dia mais quieta, calada, ela às vezes me sorria .
Um dia cheguei em casa depois de uma viagem  de seis dias e não mais encontrei a Maria . Eu sabia que ela andava meio quieta , adoentada, mas jamais imaginei que seria tão rápido . E então eu notei que as plantas não haviam sido molhadas e a casa estava vazia . Foi quando me lembrei do que dizia a Maria . A gente só pára quando morre e se pára morre....
M Isis