terça-feira, 28 de abril de 2015

Joaquim

Tinha nos olhos
um encantamento que 
não se revelava...
Deixava no ar
promessas e 
expectativas 
que jamais
se confirmavam
M Isis 

sexta-feira, 24 de abril de 2015



Ciúme 

Elas eram muito amigas,
daquelas amizades que 
parecem imunes 
a qualquer tempestade .
E assim dividiam roupas,
fotos, sapatos, saltos,
sorrisos e 
gargalhadas sem fim 
Eventualmente alguma lágrima....
Até que apareceu Joaquim. 

M Isis 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Ainda há pouco.

     Elas não se viam há muito tempo. Tratava -se de uma daquelas separações  que a vida se encarrega de fazer com as pessoas, apesar do amor . 
     Foram amigas na adolescência , naquele tempo feliz onde o mundo parece estar em nossas mãos , onde se tem todo  o tempo do mundo , o tempo do erro, o tempo do acerto, da espera, da fé  num futuro tão distante , porém tão certo
     Dividiam quase tudo, estudavam juntas  e tiravam quase as mesmas notas, ressalvadas as habilidades de cada uma . Dividiam o quarto nos finais de semana quando invariavelmente dormiam uma na casa da outra. Dividiam o choro nas brigas com as mães , as broncas por causa do celular, as roupas novas, os livros, suas impressões sobre o mundo e até mesmo  alguns amores. Não era incomum namorarem os mesmos rapazes em momentos diferentes...
    Não se pareciam  em quase nada, por fora. Uma bem magra e alta, esguia , sempre se achava um tanto grande demais, a outra, mais baixa, tipo mignon, delicada e sutil, parecia em paz com sua altura. As duas eram bonitas, numa idade em que dificilmente as meninas são feias. 
     Carla não gostava do seu nome. Achava-o forte. Já Heloisa  achava que seu nome lhe conferia certa magia, a adorava ser chamada de Helô!
     Embora tão próximas , tão distantes na  maneira de encarar os destemperos da vida.  Carla, sempre impulsiva, ansiosa e exigente com a vida, gritava e esperneava quando contrariada.  Conquistava e desdenhava Mario e Rogério ao longo da vida.           Heloisa parecia mais centrada, era engajada e preocupada com questões sociais quando a grande maioria estava mais interessada em combinar cinto-sapato-bolsa. Ela berrava menos, mas brigava  mais  , talvez a vida fosse mais dura para ela e por isso mais verossimil. Heloisa sabia que do seu esforço dependeria o amanhã  e não acreditava em futuro cor de rosa ou impunidade diante da vida. " A vida nos cobra" ela costumava dizer.  Namorava Lúcio  mas acabou se casando  com Marcelo , para o espanto de muitos é dela também . O futuro incerto em suas mãos . 
     Carla, dividida entre dois amores passou a vida em busca de felicidade e quando parecia ter encontrado , percebia-a mais adiante, e corria.... nunca punha essa tal de felicidade aonde estava .
     E embora tão diferentes por fora, apesar de agirem de maneira tão distinta, eram movidas por sentimentos muito parecidos. A mesma carência , a mesma fragilidade, o desejo , quase a mesma busca , a mesma fé . 
     E estes caminhos as colocaram distantes, longe, casaram descasaram, mudaram, se formaram , criaram filhos , enterraram os pais, ganharam  dinheiro, perderam grana , enfrentaram turbulências , venceram inúmeras e batalhas e em algumas foram derrotadas . 
     E agora, por obra e graça do destino, estavam ali, cara a cara, tanto tempo depois, uma a passeio e outra a trabalho. Lá estavam elas na mesa do café da manhã daquele hotel .... 
   Foi impossível não se reconhecerem , apesar do tempo.... Impossível não se resgatarem , apesar da distância.  Em algumas horas, e alguns compromissos daquele dia ficaram para depois, trocaram telefone, endereços, fotos, risadas e de mãos dadas prometeram novamente se encontrar. Tiveram vidas muito diferentes, atitudes diferentes, mas continuavam iguais nos sonhos, na busca e na certeza de que " a felicidade da gente, é a gente quem faz. 

M Isis 
     
    

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Espera

   Me apressei em sair do trabalho, queria pegar o comércio aberto e comprar uma sandália , se desse tempo , dar um jeito nas unhas . Olhei minhas unhas , feias e roídas , teria que escondê- las.
   Andei por algumas lojas mas não encontrei nada que se adaptasse a equação " meu bolso , meu gosto", acabei comprando uma sandália mais cara do que imaginei, mas hoje eu merecia .
   À tarde caia e a proximidade da noite me afastava destas preocupações , separei o vinho ... Talvez ele nem entrasse, mas se o fizesse, ofereceria o vinho.
   Liguei o som em tempos de economia de energia e fui secar os cabelos, secador e som, jamais imaginei que fosse me preocupar com isso um dia , novos tempos . 
   E o telefone tocou, tocou e até que eu o encontrasse ... Desligou!! droga! E se fosse ele? Mas por que ele ligaria? Já não havíamos combinado tudo? Ele passaria ás nove.
   E então me percebi insegura. Andava assim, de uns tempos pra cá , deveria ser sequela, algumas experiências marcam nossa vida...Tanto  tempo com aquela sensação de desamparo e desamor não passariam desapercebidos ...mas agora os tempos eram outros, e é isso que eu tinha que perceber...
   Pronto, quase nove, logo ele chega. Fico a folhear uma revista qualquer enquanto tem início o tempo de espera....
   Olho-me no espelho , estou bem, mais magra talvez, mais marcada, mais triste, mas agora mais leve e fortalecida . Realmente a vida pode ser assustadora , surpreendente , já disse o Toquinho sobre o futuro, " é uma astronave  que tentamos pilotar, muda a nossa vida e depois convida a rir ou chorar..."
   Olho aquela casa, minha casa, tantos sonhos cultivados , planos feitos... E embora tudo esteja perfeitamente em ordem e no lugar percebo que  está tudo fora do lugar dentro de mim.  E de tão distraída nem percebi  a campainha tocar.
      Olá  !  ele disse, enquanto de mãos dadas eu ia sendo resgatada daqueles devaneios e sendo levada a um mundo desconhecido e incerto. Sim , ele estava ali ... e a despeito do vinho que esperava , das dúvidas que me cercavam, do medo que me rondava... eu olhei com ternura os seus  olhos que me levaram pra longe, muito  longe dali .
M Isis 



Embarcação 

Ontem partiam da África,
arrancando do seu seio
aos milhares
a mão de obra 
que construiria o 
novo mundo. 
Hoje, aos milhares,
naufragam em 
embarcações 
clandestinas,
em busca  
de uma nova vida

:
As portas estão sempre
cerradas,
como estão os olhos
do mundo.
M Isis 

quinta-feira, 9 de abril de 2015


Por favor
um café,
tem que ser 
doce
pra aquietar 
a alma,
forte e quente,
pra aquecer
o peito,
e o leito, 
onde 
em paz,
me deito 
e com você
me deleito.

M Isis