quinta-feira, 23 de abril de 2015

Ainda há pouco.

     Elas não se viam há muito tempo. Tratava -se de uma daquelas separações  que a vida se encarrega de fazer com as pessoas, apesar do amor . 
     Foram amigas na adolescência , naquele tempo feliz onde o mundo parece estar em nossas mãos , onde se tem todo  o tempo do mundo , o tempo do erro, o tempo do acerto, da espera, da fé  num futuro tão distante , porém tão certo
     Dividiam quase tudo, estudavam juntas  e tiravam quase as mesmas notas, ressalvadas as habilidades de cada uma . Dividiam o quarto nos finais de semana quando invariavelmente dormiam uma na casa da outra. Dividiam o choro nas brigas com as mães , as broncas por causa do celular, as roupas novas, os livros, suas impressões sobre o mundo e até mesmo  alguns amores. Não era incomum namorarem os mesmos rapazes em momentos diferentes...
    Não se pareciam  em quase nada, por fora. Uma bem magra e alta, esguia , sempre se achava um tanto grande demais, a outra, mais baixa, tipo mignon, delicada e sutil, parecia em paz com sua altura. As duas eram bonitas, numa idade em que dificilmente as meninas são feias. 
     Carla não gostava do seu nome. Achava-o forte. Já Heloisa  achava que seu nome lhe conferia certa magia, a adorava ser chamada de Helô!
     Embora tão próximas , tão distantes na  maneira de encarar os destemperos da vida.  Carla, sempre impulsiva, ansiosa e exigente com a vida, gritava e esperneava quando contrariada.  Conquistava e desdenhava Mario e Rogério ao longo da vida.           Heloisa parecia mais centrada, era engajada e preocupada com questões sociais quando a grande maioria estava mais interessada em combinar cinto-sapato-bolsa. Ela berrava menos, mas brigava  mais  , talvez a vida fosse mais dura para ela e por isso mais verossimil. Heloisa sabia que do seu esforço dependeria o amanhã  e não acreditava em futuro cor de rosa ou impunidade diante da vida. " A vida nos cobra" ela costumava dizer.  Namorava Lúcio  mas acabou se casando  com Marcelo , para o espanto de muitos é dela também . O futuro incerto em suas mãos . 
     Carla, dividida entre dois amores passou a vida em busca de felicidade e quando parecia ter encontrado , percebia-a mais adiante, e corria.... nunca punha essa tal de felicidade aonde estava .
     E embora tão diferentes por fora, apesar de agirem de maneira tão distinta, eram movidas por sentimentos muito parecidos. A mesma carência , a mesma fragilidade, o desejo , quase a mesma busca , a mesma fé . 
     E estes caminhos as colocaram distantes, longe, casaram descasaram, mudaram, se formaram , criaram filhos , enterraram os pais, ganharam  dinheiro, perderam grana , enfrentaram turbulências , venceram inúmeras e batalhas e em algumas foram derrotadas . 
     E agora, por obra e graça do destino, estavam ali, cara a cara, tanto tempo depois, uma a passeio e outra a trabalho. Lá estavam elas na mesa do café da manhã daquele hotel .... 
   Foi impossível não se reconhecerem , apesar do tempo.... Impossível não se resgatarem , apesar da distância.  Em algumas horas, e alguns compromissos daquele dia ficaram para depois, trocaram telefone, endereços, fotos, risadas e de mãos dadas prometeram novamente se encontrar. Tiveram vidas muito diferentes, atitudes diferentes, mas continuavam iguais nos sonhos, na busca e na certeza de que " a felicidade da gente, é a gente quem faz. 

M Isis 
     
    

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